domingo, 19 de fevereiro de 2012

TEMPESTADE NO FUNCHAL 20 DE FEVEREIRO 2010


Dia 20 de Fevereiro de 2010
Forte chuva surpreendeu o Funchal
Em que deixou a cidade
Num calhau tão brutal

A chuva caída nos montes
Fez as encostas desabar
Levando tudo para as ribeiras
Sem ninguém poder controlar

Até houve muitas casas
Que ficaram destruídas
Com aquelas derrocadas
Elas eram atingidas

Eram pedras lama e árvores
Tudo a correr para as ribeiras
Deixando em desespero
Quem vivia naquelas beiras

Sem saber para onde ir
Com o perigo a espreitar
Algumas pessoas morreram
Querendo se salvar

A capelinha das Babosas
Também foi na enxurrada
Salvando-se o crucifixo
E a Imagem da Virgem Imaculada

A chuva era tão forte
Que pôs tudo a se destruir
Deixando toda a gente aflita
Sem saber para onde ir

A Protecção Civil
Enviava comunicados
Que as pessoas não saíssem de casa
Que estava perigo em todos os lados

O enxurro era tanto
Levava tudo à frente
Sem deixar lugar seguro
Num risco constantemente

Eram aquelas enxurradas
E as pessoas a correr
À procura de lugar seguro
Para poder sobreviver

Viam tudo a deslizar
Naquela força de enxurro
Os carros eram arrastados
Junto com o pedregulho

Bombeiros e Polícia
Não tinham mãos a medir
Estavam a arriscar a vida
Para o seu dever cumprir

Até houve um bombeiro
No cumprimento do dever
Estava a salvar uma senhora
E com ela veio a falecer

Foi arrastado pelas águas
Quando salvava a senhora
E assim foram duas vidas
Naquela mesma hora

A força das aguas era tanta
Que ninguém a podia conter
Corria por todo o lado
Como não se fazia prever

A televisão transmitia imagens
Do trágico acontecimento
Deixando a ilha inteira
Em sobressalto e desalento

A ilha inteira ficou unida
Naquela grande aflição
Ao ver tanta tristeza
Abalava o coração

Aquele centro da cidade
Estava sem segurança
Nem os centros comerciais
Se davam segurança

As montras ficaram tapadas
De pedras e enxurrada
Era tudo um mar de lama
Que não se via mais nada

As ruas eram ribeiras
Difíceis de desaguar
A água entrava nas lojas
Com tudo a se alagar

Foi um dia horrível
E um cenário tão triste
No meio daquilo tudo
Um povo que não desiste

Mostravam na televisão
O que estava a passar
Aquela fúria das aguas
Das ribeiras a saltar

Eram ondas tão gigantes
Que fazia apavorar
A enchente era constante
Pondo a cidade a transbordar

Eram as três ribeiras
Com caudal sem igual
Foi uma grande catástrofe
Nas ruas do Funchal

A Protecção Civil
Foi posta toda em acção
Trabalharam noite e dia
Sem terem interrupção

Eram Bombeiros e Polícia
Numa azafama sem parar
A salvar gente em risco
Que a água queria levar

Houve muitos feridos
Que conseguiram escapar
No meio de tanto perigo
Alguém os fora salvar

Houve dezenas de mortos
E centenas sem abrigo
Foi um dia de incertezas
Para familiares e amigos
  
Todos queriam saber dos seus
Mas não havia comunicações
As notícias que se conseguia
Era mesmo das televisões

Com as ruas interrompidas
Ninguém podia passar
Os anseios eram tantos
Para com as famílias falar

As pessoas deram as mãos
Com toda a generosidade
Ajudando-se umas às outras
Naquela fragilidade

Uns ficaram sem abrigo
E outros sem condições
Foram alojados nas Forças Armadas
Nessas mesmas instalações

Houve outros a se recolher
Em casa de familiares ou amigos
Sempre não estavam sozinhos
Sem se esquecerem dos perigos

Não havia lugar seguro
Na cidade do Funchal
Em qualquer rua ou canto
Nada estava normal

As ribeiras não pouparam
Avenidas nem rotundas
Deixando tudo em calhau
Com consequências profundas

As ruas eram ribeiras
Não dava para acreditar
Aquilo ali era estrada
Parecia calhau de mar

Era tão ameaçador
Arrastava tudo à frente
Trazia rocha e lama
Com força surpreendente

Muitos fizeram de repórteres
Mesmo sendo população
Filmando os acontecimentos
E enviando para a televisão

E assim era transmitido
Imagens daqui e de além
Enchentes das três ribeiras
Sem ilusões p’ra ninguém

As imagens correram mundo
De todo aquele terror
Deixando os imigrantes aflitos
Ao ver tanto horror

Não havia comunicações
O que fazia barreira
Para poder contactar
Com a ilha da Madeira

Enquanto não contactavam
Com os seus familiares
O pânico era constante
Em todos os lares

Depois do sábado de horror
Vimos a destruição
Aquelas ruas do Funchal
Estavam numa desolação

Eram os carros esmagados
Entre aquele pedregulho
As montras mal tratadas
Abarrotar de entulho

O que na sexta brilhava
No sábado em lixo ficou
A calamidade foi tão grande
Que o Funchal desfigurou

Contabilizaram os mortos
E os outros desaparecidos
Contaram os desalojados
E também os feridos

Ainda estava a chover
Já começaram a trabalhar
Na limpeza da cidade
P’rá normalidade voltar

A desentulhar a cidade
Foram máquinas e camiões
Tudo na maior ordem
Mesmo sem haver condições

Juntaram-se à Protecção Civil
A Câmara e empreiteiros
A trabalhar sem limites
Noites e dias inteiros

Foram todos unidos
A ajudar no que podiam
Sem olhar a profissões
De tudo eles faziam

Também os comerciante
Sem muito mais esperar
Puseram mãos à obra
E começaram a limpar

Era uma dor de alma
Ver tanta destruição
O” STOCK que havia
Era lixo pelo chão

Juntaram-se todos unidos
Funcionários e patrões
A limpar as suas lojas
Para por em condições

Os estragos eram tantos
A não dar satisfação
Ainda viam as percas
Para a contabilização

Os parques de estacionamento
Também foram afectados
Os carros que estavam lá dentro
Ficaram todos alagados

Foram precisas motores
Para tirar tanta água
Estava cheio até ao cimo
Que fazia grande mágoa

Foram limpar as ribeiras
Para a água desaguar
Mas o entulho era tanto
Que estava a transbordar

Não foi só o Funchal
Que o mau tempo afectou
Também noutros Concelhos
A intempérie chegou

Foi em Câmara de Lobos
Santa Cruz e Ribeira Brava
A enchente foi tão rápida
Que a todos apavorava

O Concelho da Ribeira Brava
Foi muito afectado
Onde também houve mortos
E outros desalojados

Caíram muitas derrocadas
No caminho principal
O que deixou a Serra de Água
Em isolamento total

O Curral das Freiras
Também ficou isolado
Com a chuva torrencial
Eram derrocadas por todo o lado

Foram várias as zonas da Madeira
Que ficaram afectadas
Com imensas inundações
E as muitas derrocadas

 Por Arlinda Spínola



quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Carta de Amor

Manuel! Meu querido amor
1
Hoje é o dia dos namorados
Para nós é especial
O nosso amor é um oceano
Que nos move em alto astral
2
Amor! Acordei de madrugada
Mesmo deitada a teu lado
Senti uma vontade louca
De repetir o passado
3
Lembrei-me das tuas cartas
E do que nelas me dizias
Com a minha ingenuidade
Não percebia as tuas fantasias.
4
Senti vontade de te agradecer
O amor que me tens dado
Por escrito para recordar
As lembranças do passado.
5
Querido! Como sabes foram as cartas
Que nos deram o ponto da partida
O nosso namoro começou
Apanhando-me desprevenida
6
A distância me metia medo
Mas a tua foto me encorajou
Desde o primeiro momento
Foi uma explosão que rolou
7
Mudou-me logo o sentido
Sentia-me noutra dimensão
Perdi o sono por completo
Atingiste-me no coração
8
O meu pensamento ficou distante
Cada dia era uma esperança
A ânsia de estar perto de ti
Fez em mim grande mudança.
9
Hoje meu querido amor
Tenho sempre o mesmo desejo
Para mim não perdeste o encanto
Nem o sabor do teu beijo.
10
O nosso amor é juventude
Apenas quarenta e quatro anos
Juntos fez-nos crescer em harmonia
Com lucidez e humanos
11
Unidos de alma e coração
Vivemos uma vida de amor
Certeza cada vez mais
Do teu merecido valor
12
Querido, parece que foi ontem,
O nosso primeiro beijo
Ainda sinto aquela emoção
Da força desse desejo
13
Parecia-me um beijo roubado
No meio da multidão
Foi tudo tão de repente
Que me radiou o coração
14
Passou á realidade
A minha imaginação
E foi a partir daí
Que unimos o coração
15
Pois até aí eram sonhos
Duvidas, receios
Tanta coisa à mistura
Que me deixavam anseios
16
Deixava-me de pé atrás
O desconhecido, o oceano e a distância
Mas a imagem da tua foto
Me trazia sempre uma ânsia
17
Mas tudo mudou naquele dia
Em que me esperavas no cais
O sol nos brindava com os seus raios
E as ondas do mar nos aplaudiam demais.
18
Era vinte cinco de Janeiro
De mil, novecentos e sessenta e oito
Eu esperava encontrar um trintão
Surpreendeste-me num lindo garoto
19
Querido, as nossas recordações
O tempo não apagou
Tenho-as sempre na mente
Tesouros que de nós ficou.
20
Tenho-te no coração
Como relíquia preciosa
És o meu amor-perfeito
Contigo sou vitoriosa
21
Querido, quero-te agradecer
Toda a tua dedicação
Tens sido meu anjo da guarda
Sinto isso no coração.
22
Foste o meu professor
E eu a tua aluna
Ensinaste-me a gerir
Toda a nossa fortuna
23
A nossa riqueza foi amor
Partilhamos sem medida
Isso nos fortaleceu
Dando-nos sentido à vida
24
A tua maneira de ser
Mantém-te a juventude
A idade não me diz nada
Guardas a mesma virtude
25
Não fraquejamos no amor
Caminhamos lado a lado
Com mútuo equilibro
Obtivemos bom resultado
26
O nosso amor é um oceano
Juntamos o espaço à terra
Temos o céu já em vida
E mantemos a primavera.
27
O nosso amor foi uma chama
Que acendeu e não se apagou,
Nem mesmo com as tempestades
Que na nossa vida passou
28
Cada dia foi sempre único
Embalados no amor
A nossa sensibilidade
Deu-nos força e vigor
29
Não dividimos o nosso amor
Foi sempre a multiplicar
Arranjávamos sempre uma porta,
Antes da janela fechar.
30
E como o nosso amor floriu!
E que frutos de encantar
Já criaram outras raízes
E em outros jardins foram brilhar
31
O Nosso amor é uma história
Escrita na nossa mente
É um livro sempre aberto
Trazendo o passado ao presente.
 32
Nem uma página do tamanho do mundo
Levava o que eu te queria dizer
Pois até isso era pouco
Só mesmo para te agradecer.
33
Sinto-me ridicularizada
Com as palavras que te digo
Mas é a força do amor
Por ele ser correspondido
34
Já temos uma certa idade
Mas o amor não acabou
Surpreendes-me a cada dia
A juventude não te deixou
35
Não à idade para amar
Quando o amor é verdadeiro
É um sol que realça a vida
Fazendo esquecer o nevoeiro
36
Quando estou perto de ti
Sinto-me numa multidão
Parece que tenho tudo
Dentro do meu coração
37
Tu representas para mim
Amor, carinho e paz
És a felicidade completa
Para uma vida eficaz
38
Nos baixos da nossa vida
Apoiava-se um ao outro
Mesmo no meio da aflição
Eras sempre o meu conforto
39
O meu coração é um trono
Que te entreguei por amor
Formamos um só reinado
Para a alegria e para a dor
40
O nosso amor não tem fim
Nem nunca será esquecido
As gerações descendentes
Lutarão no mesmo sentido
41
Vou terminar esta carta
Muitas outras surgirão
O amor que eu sinto por ti
Transborda do meu coração
42
Amor, termino com tantos beijos
Aqueles que não te pude dar
Multiplicados por mil
Com juros te vou pagar
43
Recebe um abraço do tamanho do mundo
Desta que sempre te amou
Nem mesmo no príncipe dos sonhos
Se o meu imaginário te descartou
44
Querido, esta carta foi escrita
Sem nenhuma fantasia
Quarenta e quatro anos de amor
Sentidos a cada dia
45
Eu escrevi esta carta                 
Para matar a saudade               
Daquelas cartas de amor          
Que trocamos na mocidade      


Santana, 14 de fevereiro de 2012
Arlinda Spínola