Fomos flores na primavera
O sol quente no verão
Folhas persistentes do outono
E ao inverno, chegaremos ou não
A nossa vida foi de etapas
Todas elas com ação
Já desde o ventre materno
Pulsava o nosso coração
Começamos a lutar p’rá vida
Mesmo sem termos noção
Era apenas o instinto
A pôr tudo em acção
E assim fomos crescendo
Num percurso de evolução
Desde criança a adulto
Alheios à dimensão
Quando éramos crianças
Os nossos pais eram heróis
Era a maior satisfação
Vê-los chegarem até nós
O colo da mãe acalmava
E fazia adormecer
O joelho do pai era disputado
Com todos a concorrer
E depois veio a adolescência
Era tudo muito bonito
Mas a falta de experiência
Fazia armar o conflito
E aí se gerava a confusão
Víamos tudo ao contrário
Achávamos ter a razão
Mas sem fazer comentário
Crescemos mais um bocado
Veio a responsabilidade
E encarar a vida de frente
Passou a realidade
Acordados sonhamos alto
Cada qual escolheu seu par
Movidos pela força do amor
Até namorar e casar
Formamos uma família
Chegou o primeiro filho
A vida a se desenrolar
Entre nuvens e brilho
Continuando o percurso
Cada qual com sua cruz
Despedindo da primavera
Esperando um verão de luz
E a família foi crescendo
Formando assim um jardim
Cada cravo e cada rosa
Vinham de dentro de mim
Depois Chegou o verão
Com as flores a dispersar
Seguindo o seu destino
Para outros jardins formar
Começaram a chegar os netos
Um renovar de emoções
Luzes dos nossos olhos
Que nos enche os corações
Começamos a olhar para eles
Realçando o pensamento
Vendo os traços dos nossos filhos
Presentes em cada rebento
Aí aparecem os sinais
Do outono a chegar
A despedida do verão
Põe tudo a modificar
São os cabelos brancos
As rugas a se alongar
Os passos mais vagarosos
E a memória a falhar
Chegando ao outono
É grande a satisfação
Só nos resta o inverno
Ainda sem previsão
Já fomos a tempestade
Também trouxemos bonança
Em todas as alturas da vida
Tivemos horas de criança
Hoje na terceira idade
Somos livros de lições
Dos obstáculos encontrados
E do encontrar soluções
Chegamos ao nosso outono
Deixando p’ra trás o verão
O tempo voou tão rápido
Que até nos cria ilusão
Somos árvores persistentes
Sem termos raiz ao chão
Os nossos filhos são frutos
A continuar a geração
Alcançamos o outono
Com o embalar do verão
Mas a alegria da primavera
Tem sido o nosso bordão
Cada etapa da nossa vida
Fomos deixando p’ra trás
Seguimos sempre em frente
O passado, não volta mais
A nossa vida é um percurso
Sem noção da distância
Pode ser curta ou longa
Não vem daí a importância
Interessa é chegar à meta
Cumprindo a sua missão
A realidade da vida
Não deixa haver ilusão
Chegamos até ao outono
Com realidades e fantasias
Num enrolar de surpresas
De tristezas e alegrias
Foi tão bom chegar ao outono
E rever a mocidade
Ver o trilhar do caminho
Numa nuvem de saudade
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