A crise não desfalece
Acompanhou-me na vida
Sempre que alargo o passo
Ela prega-me a partida
Sou humilde mas honesta
Não sou uma mulher letrada
Sempre fiz as minhas contas
A não ficar a dever nada
Nasci no tempo da crise
Sem nenhuma regalia
A honestidade foi o lema
P’rá minha filosofia
Mas entre gente ilustre
Observo a sua vivencia
Vejo que a sabedoria
Não equilibra a consciência
Na família que eu nasci
Não conheci a maldade
Fez que o mundo para mim
Fosse só honestidade
Sem a malícia do mundo
Foi crescendo encegueirada
Hoje vejo a descoberto
Como eu estava enganada
Já mesmo no cumprimentar
Rotulava-se os senhores
A vénia revelava a posse
Das categorias superiores
Os senhores eram poucos
Toda a gente os conhecia
Pois o povo explorado
Ocupava a maioria
Agora este regime
Com disfarce de encantar
Mediu os pés pelas mãos
Pondo o povo a mendigar
Foram iludindo o povo
Na maior desorganização
Deixando as contas no prego
Gentinha sem discrição
Agora o contribuinte
Sem dinheiro na carteira
Com impostos redobrados
A pagar a roubalheira
O tempo para trás não volta
A miséria nos alcança
Os nossos contabilistas
Esqueceram da poupança
Só aprenderam a tirar
Esqueceram a multiplicação
Dividiram o que não tinham
Deixando muitos sem pão
E lá ficou Portugal
Despido na bancarrota
Sem equilibrar as contas
O levaram para a derrota
Agora é um quebra-cabeças
Para arranjar ordenados
Até os da função pública
Sujeitos a desempregados
E Portugal a se desmoronar
Como um puzzle já desfeito
Para unir as peças todas
Duvido que tenham jeito
São dívidas exorbitantes
Que nos deixa a duvidar
Sonhos desfeitos p´ra muitos
Ferida que já mais vai curar
Até já estão a vender
O património dos portugueses
Dispostos a fazer compras
Os exploradores chineses
Já estamos penhorados
Vão-nos vender em leilão
Para as despesas correntes
Das reformas em questão
Para uns, pouco demais
P’ra outros a abarrotar
São reformas de vergonha
Que nos faz desequilibrar
A pagar os honorários públicos
Estão os trabalhadores
Sustentando os preguiçosos
Vadios, doentes e senhores
Ficam-lhes os calos nas mãos
E os bolsos sem dinheiro
Sempre a esticar os cêntimos
P'ra remediar o mês inteiro
Por Arlinda Spínola
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