Fui Emigrante
Estava em plena juventude
Com sonhos a abarrotar
Tinha pouca experiência
Mas quis me aventurar
Corri atrás da aventura
Com a força da ilusão
O sonho me despertava
E tomei a decisão
Eu sonhava muito alto
Por vezes mesmo acordado
Eu sentia uma revolta
Era esse o meu pecado
Sem ter eira nem beira
Nem trabalho a agarrar
Sentia uma vontade louca
Só mesmo para emigrar
Eu fazia muitos planos
Voltando sempre atrás
Sem ver a realidade
Era frustração a mais
A emigração era o rumo
Que me encorajava mais
E a falta de experiência
Deixava-me, de pé atrás
Um dia sem muito pensar
Deixei para trás a Madeira
A bagagem era a mágoa
E uns cêntimos na algibeira
Disse adeus à minha terra
À família e ao país
A dor que eu levava
Deixava-me cicatriz
Despedi-me em silêncio
Sem abraçar a ninguém
Comigo levava a mágoa
De deixar a terra mãe
Ao por o pé no navio
Não quis olhar para trás
Tinha o coração partido
Angustiado demais
E assim segui viagem
Indo atrás da ilusão
Deixando a linda Madeira
Levando-a no coração
Cheguei a outro país
Encontrei a realidade
Eu sentia-me tão perdido
Dentro daquela cidade
Batendo de porta em porta
Andando sem direcção
À procura de trabalho
P’ra ter uma refeição
E assim se passaram dias
Desconhecia esse mundo
Sem ter para onde ir
Sentia-me um vagabundo
Em angustia permanente
Sem poder voltar atrás
Ia sofrendo em silêncio
Esperando encontrar paz
Com as lágrimas pela face
Sem ter onde repousar
Ia vagueando em vão
E a vida a desmoronar
Se o arrependimento matasse
Não tinha sobrevivido
Sentia-me abandonado
Completamente perdido
Quando chegava a noite
Era outro pesadelo
Não tinha onde reclinar
A não ser o cotovelo
Cada noite que passava
Trazia-me a esperança
Mas o dia terminava
Só ficando a lembrança
Quando tudo se esgotava
Apareceu-me um amigo
Com carinho de irmão
Tirou-me logo do perigo
Ele abriu-me a sua porta
Recebeu-me de coração
Restabeleceu-me as forças
Tirando-me da aflição
Ele aí, me encaminhou
Deu-me a cana p’ra pescar
Especializou-me na arte
E pôs-me asas para voar
Ele tirou-me da rua
Em troca nada pediu
Fez-se de pai para mim
E aos poucos, me ergueu
Hoje tenho uma família
Vivo com paz e amor
Mas todo o meu sucesso
O devo a esse senhor
Já regressei à Madeira
Com histórias por contar
Mostro o meu lado bonito
E o outro quero ocultar
Quem um dia tiver de partir
Não saia sem direcção
Onde não somos conhecidos
Todos nos julgam ladrão
Ele a me contar a história
A magoa me transmitia
Deixando a descoberto
A ferida que sentia
Por: Arlinda Spínola
segunda-feira, 3 de setembro de 2012
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